Dona Morte
ultimamente anda muito cansada, os acidentes de trânsito têm aumentado e o
número de pessoas que ela precisa buscar cresceu assustadoramente. A demanda
reprimida já acarretou sérios problemas, pois em Transitolândia todos os
estudiosos estão investigando como um rapaz, que caiu de cima de um viaduto
após empinar uma moto e foi colhido por um ônibus e arremessado a 500 metros
contra um poste, ainda continua vivo.
Já se cogita até que
o rapaz é imortal, mas na realidade ele só continua vivo porque Dona Morte não
pode buscá-lo devido à demanda causada pelo aumento dos acidentes de trânsito.
A fim de solucionar o
problema Dona Morte abriu uma agência denominada “Ceifeiros do Trânsito LTDA",
especializada apenas em buscar pessoas que se envolvem em acidentes de
trânsito, e lançou um edital para contratar mão de obra para o trabalho.
- Bom dia! – Falou o
primeiro candidato a vaga na empresa de Dona Morte.
- Bom dia! –Respondeu
Dona Morte pegando o currículo do candidato.
- Eu tenho
experiência com foices, meu pai era agricultor e aprendi a manusear com elas
desde pequeno. – Falou entusiasmado o candidato a vaga.
- Vejo pelo seu
currículo que você não possui habilitação na categoria “A” e nem possui
habilidade com redes sociais, por isso será desclassificado por não possuir o
perfil exigido para a vaga. – Falou Dona Morte franzindo a testa.
- Como assim? Sou
ótimo com a foice e esta é a principal ferramenta dos ceifeiros da morte. Para
que eu preciso saber dirigir moto e ter habilidade com redes sociais? – Falou o
candidato indignado.
- Você acabou de dar
mais um sinal de inaptidão para a vaga, pois você está desatualizado. Desde que
os governos deixaram de lado às ações educativas de trânsito e facilitaram à
aquisição de motocicletas e smartphones, estes passaram a ser nosso principal
instrumento de trabalho e não mais a foice. – Falou Dona Morte.
- Ainda não consegui
entender. – Falou o candidato.
- Amigo, a ausência
de ações educativas fizeram com que as pessoas dirijam seus motociclos sem a
observância dos princípios mínimos de segurança. – Explicou a morte.
- E as redes sociais?
Pra que um ceifeiro tem que ter habilidade com elas? – Perguntou intrigado o
candidato.
- As redes sociais
transformaram as pessoas em verdadeiros “dependentes tecnológicos”, pessoas que
não podem ficar nem um minuto sem consultar a tela do smartphone. Essa consulta
acontece frequentemente enquanto dirigem ou enquanto atravessam uma rua. –
Falou a morte já impaciente com o desconhecimento do candidato.
- Por isso solicito
para a vaga habilitação na categoria “A” e conhecimento em redes sociais. –
Completou dona morte.
- Entendi! – Falou o
candidato desapontado já levantando da cadeira e saindo pela porta.
Ao sair da sala já
era quase meio-dia e Dona Morte avisou que a seleção com os demais candidatos
continuaria após o almoço.
O primeiro candidato
ao sair da sala disse aos demais que tinha sido desclassificado e revelou os
motivos. Ao voltar do almoço para continuar o processo seletivo Dona Morte se
assustou, ao abrir a porta encontrou centenas de candidatos sobre motos e em
vez de uma foice traziam um bastão de selfie
na mão.
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