As
coisas andam meio estranhas em Transitolândia, de uns tempos pra cá vários
relatos assustadores tem sido contados pelos moradores dessa pacata cidade.
Diversas pessoas já disseram que tiveram a chaves de seus veículos roubadas por
um saci, outras disseram que viram ao lado da subestação de energia um
motoqueiro sem cabeça e agora se fala em uma criatura de baixa estatura, cabelo
vermelho e que tem os pés virados para trás, que anda assombrando crianças que atravessam
a rua em frente à funerária Pé na Cova.
- Parafuso! Parafuso!- Gritava
Joãozinho
- O que é Joãozinho? – Perguntou
Parafuso, sobrinho do mecânico Zé Motor.
- Preciso de sua ajuda. – Falou
Joãozinho
- Ajuda pra quê? – Perguntou
Parafuso todo confuso.
- Tem algo estranho acontecendo
lá em frente à funerária Pé na Cova. Estão dizendo que as crianças que tentam
atravessar a rua em frente à funerária são perseguidas por um baixinho de
cabelos vermelhos e pés virados para trás. – Falou Joãozinho
- Sinistro! – falou Parafuso
- E não é só isso, o pessoal tá
dizendo que o baixinho só aparece quando as crianças atravessam fora da faixa
de pedestre. – Continuou Joãozinho
- Já saquei! – Gritou Parafuso
- Sacou o que Parafuso? –
Perguntou Joãozinho intrigado
- O baixinho de quem você está
falando é o Curupira. – Falou Parafuso tirando de dentro de sua mochila um
livro.
- Que livro é esse Parafuso? –
Perguntou Joãozinho
- Esse é o almanaque dos
personagens do folclore brasileiro. Olha aqui o danado do Curupira.- Falou
Parafuso apontando para um desenho do livro.
- E como nós faz pra pegar esse
danado? Perguntou Joãozinho
- No folclore não diz o que fazer
mais eu fiquei sabendo que o Curupira tem o cabelo de fogo e se jogarmos um
balde de água em cima da cabeça dele ele fica sem poderes e preso dentro do
balde. – Falou Parafuso
- Então o que estamos esperando?
Perguntou Joãozinho
Os garotos chegaram em frente a
funerária Pé na Cova e traçaram um plano para pegar o Curupira, Joãozinho fingiu
que atravessava fora faixa de pedestres e quando o baixinho apareceu Parafuso
jogou um balde de água em cima dele.
- O que é isso seus moleques? Me
soltem! – Gritou o Curupira de dentro do balde.
- Nós não vamos te soltar seu
bagunceiro, sua vida é assustar os moradores dessa cidade. – Falou Joãozinho
- Errado! Minha vida é salvar os
moradores dessa cidade. – Falou o Curupira irritado.
- Salvar? Como assim? –
Perguntaram os meninos.
- Me tirem desse balde e me
arrumem uma toalha pra enxugar meu cabelo e eu explico. – Falou o Curupira
falando ainda mais alto.
- Tá bom! Mas promete que num vai
fugir. – Falaram os garotos
- Fugir pra quê? Eu quero é
explicar esse mal entendido. – Falou o Curupira
Os meninos tiraram o Curupira de
dentro do balde e deram pra ele uma tolha de rosto que estava dentro da mochila
de Parafuso.
- Você já tá solto, agora
desembucha. – Falou parafuso.
- Eu era um garoto normal como
vocês, todos os dias ia pra escola e brincava com os amigos. Minha mãe sempre
me orientou a nunca atravessar a rua fora da faixa de pedestres, mas eu achava
que aquilo era uma besteira, e para não andar mais dez metros até a faixa,
atravessava fora dela. Um dia quando estava indo pra escola atravessei fora da
faixa e um carro virou a esquina e não me viu e acabei sendo atropelado.
Acordei no hospital e percebi que meus pés tinham sido totalmente destruídos,
nessa hora senti como se a vida tivesse acabado, mas de repente uma luz brilhou
no quarto e um cidadão que se identificou como o Fada do Trânsito disse que
podia me ajudar a voltar a andar, só que para isso teria que virar os meus pés
ao contrário, e eu teria que me comprometer a passar a vida conscientizando o
máximo de crianças possível sobre os riscos de atravessar a rua fora da faixa
de pedestres. Aquilo me pareceu estranho, mas era minha única escolha, então
aceitei e ele fez o combinado, virou os meus pés para trás e como compensação a
aquela anormalidade jogou um pó brilhante na minha cabeça que fez meu cabelo
virar uma tocha de fogo e toda vez que a tocha acende consigo correr mais
rápido que qualquer coisa. E desde então quando alguma criança atravessa fora
da faixa de pedestre corro atrás até que volte para ela. – Falou o Curupira
cabisbaixo.
- Ô Curupira! Desculpe a gente!
Nós não sabíamos. – Falaram os garotos
- Tudo bem garotos, eu entendo
vocês. – Falou o Curupira.
- Como pedido de desculpas nós
vamos ajudar você na sua missão, você num vai ter que assustar mais ninguém pra
conscientizar que tem que atravessar na faixa. – Falou Parafuso
Os garotos saíram arrastando o
Curupira e o levaram até a casa do Zé Policia, que é o chefe do Departamento de
Trânsito de Transitolândia, e contaram pra ele todo o ocorrido. Zé Policia
incorporou o Curupira em sua equipe de Educação para o Trânsito e desde aquele
dia o Curupira ficou responsável por visitar escolas e orientar as crianças
sobre o risco de não utilizar a faixa de pedestres.
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