sexta-feira, 2 de setembro de 2016

A lenda do Curupira Urbano


As coisas andam meio estranhas em Transitolândia, de uns tempos pra cá vários relatos assustadores tem sido contados pelos moradores dessa pacata cidade. Diversas pessoas já disseram que tiveram a chaves de seus veículos roubadas por um saci, outras disseram que viram ao lado da subestação de energia um motoqueiro sem cabeça e agora se fala em uma criatura de baixa estatura, cabelo vermelho e que tem os pés virados para trás, que anda assombrando crianças que atravessam a rua em frente à funerária Pé na Cova.

- Parafuso! Parafuso!- Gritava Joãozinho
- O que é Joãozinho? – Perguntou Parafuso, sobrinho do mecânico Zé Motor.
- Preciso de sua ajuda. – Falou Joãozinho
- Ajuda pra quê? – Perguntou Parafuso todo confuso.
- Tem algo estranho acontecendo lá em frente à funerária Pé na Cova. Estão dizendo que as crianças que tentam atravessar a rua em frente à funerária são perseguidas por um baixinho de cabelos vermelhos e pés virados para trás. – Falou Joãozinho
- Sinistro! – falou Parafuso
- E não é só isso, o pessoal tá dizendo que o baixinho só aparece quando as crianças atravessam fora da faixa de pedestre. – Continuou Joãozinho
- Já saquei! – Gritou Parafuso
- Sacou o que Parafuso? – Perguntou Joãozinho intrigado
- O baixinho de quem você está falando é o Curupira. – Falou Parafuso tirando de dentro de sua mochila um livro.
- Que livro é esse Parafuso? – Perguntou Joãozinho
- Esse é o almanaque dos personagens do folclore brasileiro. Olha aqui o danado do Curupira.- Falou Parafuso apontando para um desenho do livro.
- E como nós faz pra pegar esse danado? Perguntou Joãozinho
- No folclore não diz o que fazer mais eu fiquei sabendo que o Curupira tem o cabelo de fogo e se jogarmos um balde de água em cima da cabeça dele ele fica sem poderes e preso dentro do balde. – Falou Parafuso
- Então o que estamos esperando? Perguntou Joãozinho
Os garotos chegaram em frente a funerária Pé na Cova e traçaram um plano para pegar o Curupira, Joãozinho fingiu que atravessava fora faixa de pedestres e quando o baixinho apareceu Parafuso jogou  um balde de água em cima dele.
- O que é isso seus moleques? Me soltem! – Gritou o Curupira de dentro do balde.
- Nós não vamos te soltar seu bagunceiro, sua vida é assustar os moradores dessa cidade. – Falou Joãozinho
- Errado! Minha vida é salvar os moradores dessa cidade. – Falou o Curupira irritado.
- Salvar? Como assim? – Perguntaram os meninos.
- Me tirem desse balde e me arrumem uma toalha pra enxugar meu cabelo e eu explico. – Falou o Curupira falando ainda mais alto.
- Tá bom! Mas promete que num vai fugir. – Falaram os garotos
- Fugir pra quê? Eu quero é explicar esse mal entendido. – Falou o Curupira
Os meninos tiraram o Curupira de dentro do balde e deram pra ele uma tolha de rosto que estava dentro da mochila de Parafuso.
- Você já tá solto, agora desembucha. – Falou parafuso.
- Eu era um garoto normal como vocês, todos os dias ia pra escola e brincava com os amigos. Minha mãe sempre me orientou a nunca atravessar a rua fora da faixa de pedestres, mas eu achava que aquilo era uma besteira, e para não andar mais dez metros até a faixa, atravessava fora dela. Um dia quando estava indo pra escola atravessei fora da faixa e um carro virou a esquina e não me viu e acabei sendo atropelado. Acordei no hospital e percebi que meus pés tinham sido totalmente destruídos, nessa hora senti como se a vida tivesse acabado, mas de repente uma luz brilhou no quarto e um cidadão que se identificou como o Fada do Trânsito disse que podia me ajudar a voltar a andar, só que para isso teria que virar os meus pés ao contrário, e eu teria que me comprometer a passar a vida conscientizando o máximo de crianças possível sobre os riscos de atravessar a rua fora da faixa de pedestres. Aquilo me pareceu estranho, mas era minha única escolha, então aceitei e ele fez o combinado, virou os meus pés para trás e como compensação a aquela anormalidade jogou um pó brilhante na minha cabeça que fez meu cabelo virar uma tocha de fogo e toda vez que a tocha acende consigo correr mais rápido que qualquer coisa. E desde então quando alguma criança atravessa fora da faixa de pedestre corro atrás até que volte para ela. – Falou o Curupira cabisbaixo.
- Ô Curupira! Desculpe a gente! Nós não sabíamos. – Falaram os garotos
- Tudo bem garotos, eu entendo vocês. – Falou o Curupira.
- Como pedido de desculpas nós vamos ajudar você na sua missão, você num vai ter que assustar mais ninguém pra conscientizar que tem que atravessar na faixa. – Falou Parafuso
Os garotos saíram arrastando o Curupira e o levaram até a casa do Zé Policia, que é o chefe do Departamento de Trânsito de Transitolândia, e contaram pra ele todo o ocorrido. Zé Policia incorporou o Curupira em sua equipe de Educação para o Trânsito e desde aquele dia o Curupira ficou responsável por visitar escolas e orientar as crianças sobre o risco de não utilizar a faixa de pedestres.


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